Meus Discos e Livros e Tudo o Mais!: Primeiras Linhas

Primeiras Linhas

Essa é uma coluna em que trago as primeiras linhas de um livro qualquer. O comecinho do livro, aquelas primeiras frases, muitas vezes são o que atiçam a nossa vontade de lê-lo. Então, lógico, é mais legal se esse início for interessante e até desperte, nem que seja um pouquinho, interesse pelo livro.
A coluna começou como semanal e agora passou a ser quinzenal ou quando me lembro =X




Tamanho 44 Também não é Gorda - Meg Cabot
(Sobre a série)

O cara atrás do balcão não para de olhar para mim. De verdade.
E ele é gostoso. Para um garoto de vinte anos que é barista, claro. Aposto que ele toca violão. Aposto que ele fica acordado até muito tarde da noite, dedilhando, como eu. Dá para ver que fica pela leve sombra sob seus olhos verdes com cílios compridos, e pela maneira como o cabelo louro cacheado dele tem uns tufos espetados por toda a cabeça. É cabelo de quem saiu direto da cama para o trabalho. Não teve tempo de tomar um banho porque ficou acordado até tarde, ensaiando. Igualzinho a mim.
— O que vai ser hoje? — ele me pergunta. Mas com um olhar. Um olhar que com certeza diz: Estou te analisando.
Eu sei que é para mim que ele está dando mole, porque não tem ninguém na fila atrás de mim. Bom, e por que ele não poderia estar me olhando com segundas intenções? Eu estou bem. Quer dizer, as partes do meu corpo visíveis fora das minhas roupas volumosas de inverno, pelo menos, estão bem. Eu com certeza passei rímel e base hoje de manhã (diferentemente do Carinha do Café, eu gosto de disfarçar as minhas olheiras). E, com a minha parca, não dá para ver os dois (tudo bem, cinco) quilos que eu ganhei nas férias de fim de ano. Afinal, quem conta calorias no Natal? Ou no Ano Novo? Ou depois do Ano Novo, quando todos os doces de Natal estão em liquidação? Há tempo de sobra para voltar à forma antes da temporada dos biquínis.
E, tudo bem, faz cinco ou seis anos que eu repito isso para mim mesma, e ainda não tentei de verdade... Entrar em forma para a temporada dos biquínis, quer dizer. Mas, quem sabe? Talvez neste ano eu tente. Tenho dois dias de férias para tirar, tudo que eu juntei desde que terminou meu período de experiência, em outubro do ano passado. Posso ir para Cancún. E, tudo bem, só para passar o fim de semana. Mas, mesmo assim...
Então, e daí que eu sou cinco (bom, talvez oito) anos mais velha do que o Carinha do Café? Eu ainda tenho as manhas.
Obviamente.


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O Noivo da Minha Melhor Amiga - Emily Giffin
(Resenha)



"Eu estava na 5ª série quando pensei pela primeira vez sobre fazer trinta anos. Um dia, eu e minha melhor amiga Darcy pegamos uma agenda e abrimos no final, onde havia um calendário perpétuo que permitia consultar qualquer data no futuro e, por meio de uma pequena tabela, determinar qual seria o dia da semana correspondente. Então localizamos nossos aniversários do ano seguinte, o meu em maio e o dela em setembro. O meu caía na quarta, uma noite de aula. O dela caía na sexta. Uma vitória pequena, mas típica. Darcy era sempre a mais sortuda. Sua pele se bronzeava mais rápido, seu cabelo era mais fácil de modelar e ela não precisava de aparelho nos dentes. Ela fazia passos de break como ninguém, assim como dava estrelas e cambalhotas para frente (eu nem mesmo sabia dar cambalhotas). Tinha a melhor coleção de adesivos. Mais bótons do Michael Jackson. Suéteres Forenza em turquesa, vermelho e pêssego (minha mãe não me deixava ter nenhuma — dizia que eram modismos e muito caras). Tinha também um jeans de cinqüenta dólares da Guess, com zíperes na lateral do tornozelo, além de dois furos em cada orelha e um irmão, o que era melhor do que ser filha única como eu.
Pelo menos eu era alguns meses mais velha e ela nunca poderia me alcançar. Foi aí que decidi checar meu trigésimo aniversário — num ano tão distante que soava como ficção científica. Caía num domingo, o que significava que meu marido boa-pinta e eu providenciaríamos uma babá responsável para os nossos dois (possivelmente três) filhos na noite de sábado, jantaríamos num sofisticado restaurante francês com guardanapos de pano e ficaríamos fora até depois da meia-noite, de forma que, tecnicamente, estaríamos celebrando na data real do meu aniversário. Eu teria acabado de ganhar uma grande causa, de provar a inocência de um homem da cidade. E meu marido faria um brinde em minha homenagem: "À Rachel, minha linda esposa, mãe dos meus filhos e a melhor advogada da cidade." Compartilhava minha fantasia com Darcy quando descobrimos que seu trigésimo aniversário caía numa terça-feira. Uma decepção para ela. Observei enquanto ela apertava os lábios processando a informação.
— Você sabe como é, Rachel, quem se importa com o dia da semana em que cai o aniversário de trinta anos? — ela disse, sacudindo os ombros macios e bronzeados. — Até lá nós já estaremos velhas. Os aniversários não importam quando a gente fica velha."
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Sociedade Secreta: Rosa & Túmulo - Diana Peterfreund
(Resenha)


Por meio desta, eu confesso:
sou membro de uma das mais infames
sociedades secretas do mundo.
Tenho certeza de que você já ouviu a lenda. Nós somos o segredinho sujo da Ivy League, que reúne as melhores universidades dos Estados Unidos. Mandamos no país, até nos estados com os quais você não pensaria que nos importamos, como Nebraska. Nós começamos guerras, coordenamos golpes de estado e participamos da redação das Constituições de todas as novas nações. Todo candidato à presidência do país é um membro — assim, quem quer que ganhe sempre estará sob nosso controle.
A mídia tem medo de nós, o que é bobagem, já que os diretores de todos os jornais e cadeias de televisão do país são membros de nossa irmandade. Controlamos todos os aspectos da mídia há mais de um século, desde decidir que filmes recebem aprovação para serem produzidos até a escolha do próximo vencedor do American Idol (você realmente acha que os votos via mensagem de texto contam?).
Somos donos da maioria dos prédios na universidade, assim como de boa parte dos terrenos da cidade, e temos isso sob vigilância, inclusive com escuta telefônica. A polícia local trabalha para nós. O prefeito está nas nossas mãos. Não há um estudante no campus que não tenha medo de passar por nosso imponente mausoléu de pedra.
Ser escolhido para a nossa sociedade é o bilhete de entrada para uma vida que supera os sonhos mais loucos de qualquer pessoa. O sucesso é nosso direito de nascença a partir do momento em que emergimos de nossos caixões de iniciação para nossas novas vidas como membros da sociedade. Qualquer emprego que quisermos está ao nosso alcance e qualquer emprego que não quisermos que nossos inimigos tenham está fora do deles. Recebemos muito dinheiro de presente quando nos formamos, assim como carros esporte, antiguidades valiosas e uma mansão em uma luxuosa ilha particular. Nunca seremos presos. Nunca ficaremos pobres. A sociedade cuidará disso.
Nossa lealdade para com a sociedade é mais importante que todo o resto em nossas vidas — nossas famílias, nossas amizades, até mesmo nossas vidas amorosas. Se qualquer um, até mesmo alguém de quem gostamos de todo o coração, mencionar o nome da sociedade em nossa presença, devemos deixar o aposento imediatamente e nunca mais falar com essa pessoa.
Nunca podemos contar a ninguém que somos membros. Não podemos jamais deixar que alguém que não seja membro entre em nosso mausoléu ou será morto.
Não podemos jamais abandonar a sociedade ou revelar nenhum de seus segredos ou nós seremos mortos.
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Quais desses boatos são verdadeiros e quais são teorias de conspiração exageradas?
Eu lhe diria, mas aí teria que matá-lo.
Não acredita em mim? Tudo bem, então vire a página. Mas não diga que eu não avisei...
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Wake - Lisa McMann
(Resenha)

"9 de dezembro de 2005 12h55
O livro de matemática de Janie Hannagan escorrega de seus dedos. Ela agarra a borda da mesa na biblioteca da escola. Tudo fica escuro e silencioso. Suspira e descansa a cabeça sobre a mesa. Tentou escapar dessa, mas sua tentativa foi um fracasso deprimente. Ela está muito cansada hoje. Com muita fome. Realmente não tem tempo para isso.
E então.

Está sentada nas arquibancadas no estádio de futebol, piscando os olhos debaixo das luzes, calada em meio aos gritos da multidão.
Olha de relance para as pessoas sentadas a seu redor nas arquibancadas - colegas de classe, pais - tentando identificar o sonhador. Ela consegue dizer que este sonhador está com medo, mas onde está ele? Em seguida, lança um olhar ao campo de futebol. Encontra-o. Revira os olhos.
É Luke Drake. Sem sombra de dúvida. Afinal, ele é o único jogador nu no campo para o jogo de homecoming."
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Procurava um marido encontrei um cachorro - Karen Templeton

“De início, quero apenas registrar que não me apaixonei por Greg Munson por ele ser bem-sucedido ou bonito (se bem que não me importava nem um pouco com os olhares invejosos do tipo “Como ela conseguiu ele?” sempre que saíamos) e nem para irritar minha mãe. E, juro, o fato de ele ser o filho de um congressista republicano foi mero acaso.
Não. Eu me apaixonei porque ele me deu todas as indicações de ser uma pessoa normal. E, como as chances de se encontrar uma criatura assim nesta cidade são de aproximadamente uma em um quatrilhão, quando ele me pediu em casamento eu me joguei em cima dele. Talvez não me orgulhe disso, mas, convenhamos, estamos falando da sobrevivência da espécie.
E não tenho dúvidas de que poderíamos ter uma vida muito legal juntos, se ele tivesse tido a decência de aparecer no casamento.
Agora, convenhamos, só se passaram duas horas desde que enfiei 22 metros de tule dentro de um táxi e saí do hotel com o meu ego arrasado de volta para o meu apartamento; portanto, não é como se eu tivesse tido muito tempo para entender o que aconteceu. Não que eu tenha tal pretensão.”
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O Último Olimpiano - Rick Riordan
(Resenha)


"O fim do mundo começou quando um pégaso pousou no capô de meu carro.
Até então, minha tarde estava ótima. Tecnicamente, eu não devia estar dirigindo, pois ainda faltava uma semana para completar dezesseis anos, mas minha mãe e meu padrasto, Paul, levaram a mim e a minha amiga Rachel para um trecho de estrada em uma praia particular em South Shore, e Paul nos emprestou seu Prius para uma voltinha.
Ora, eu sei que você está pensando: Puxa, isso é uma grande irresponsabilidade dele, blá-blá-blá, mas Paul me conhece muito bem. Ele já me vira fatiar demônios e saltar de janelas de escolas em chamas, então provavelmente concluiu que guiar um carro algumas centenas de metros não era exatamente a coisa mais perigosa que eu já havia feito."


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Sussurro - Becca Fitzpatrick
(Resenha)


"Chauncey estava com a filha de um lavrador na relva às margens do rio Loire quando a tempestade se aproximou. Por ter deixado sua montaria perambular pela campina, ele não tinha opção a não ser voltar para o castelo com os próprios pés. Arrancou uma fivela de prata do sapato, colocou-a na palma da mão da moça e observou enquanto ela se afastava correndo, a barra das saias imunda de barro. Em seguida, calçou as botas e partiu para casa.
A chuva desabava pelos campos cada vez mais escuros nos arredores do Château de Langeais. Chauncey caminhava com segurança sobre os túmulos afundados e as folhas podres do cemitério. Mesmo na neblina mais espessa ele conseguia encontrar o caminho de volta, e não tinha medo de se perder. Não havia neblina naquela noite, mas a escuridão e a crueldade da chuva já criavam dificuldade suficientes.
Chauncey captou um movimento com o canto do olho e voltou bruscamente a cabeça para a esquerda. O que à primeira vista parecera ser uma enorme estátua coroando uma sepultura próxima ergueu-se majestosamente. Não era feita nem de pedra, nem de mármore. O garoto tinha braços e pernas. O peito estava despido, os pés, descalços, e calças de camponês pendiam abaixo da cintura. Ele desceu da lápide com as pontas dos cabelos negros encharcados pela chuva pingando. As gotas desciam por seu rosto, que era tão moreno quanto o de um espanhol."

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Os Delírios de Consumo de Becky Bloom - Sophie Kinsella

"Tudo bem. Não entre em pânico. É só uma conta do VISA. Só um pedaço de papel; alguns números. Quero dizer, que poder têm uns poucos números para nos amedrontar?
Pela janela do escritório, olho para um ônibus descendo a Oxford Street. Quero abrir o envelope branco sobre minha escrivaninha desarrumada. “É só um pedaço de papel”, repito para mim mesma pela milésima vez. E não sou burra, sou? Sei exatamente qual é o valor desta conta do VISA.
Mais ou menos.
Vai ser cerca de... 200 libras. Talvez trezentas. Sim, talvez trezentas. Trezentas e cinqüenta no máximo.
Indiferente, fecho os olhos e começo a calcular. Teve aquele tailleur na Jigsaw. E aquele jantar com Suze no Quaglino’s. E aquele lindo tapete vermelho e amarelo. O tapete foi 200 libras, imagine. Mas definitivamente valeu cada centavo – todos os admiraram. Pelo menos Suze.
E o tailleur da Jigsaw estava em liquidação – por 30% a menos. Portanto, na verdade, foi uma economia de dinheiro.
Abro meus olhos e estico a mão para a conta. Quando meus dedos alcançam o papel, lembro-me das novas lentes de contato. Noventa e cinco libras. Um bocado. Mas, afinal, tive que comprar, não tive? O que devo fazer, andar por aí sem enxergar nada?
E precisei comprar umas loções novas, uma caixinha bonitinha e um delineador hipoalergênico. Isso eleva para... quatrocentos?
De sua mesa de trabalho na sala ao lado, Clare Edwards olha para mim. Está separando todas as suas cartas em pilhas como faz todas as manhãs. Embrulha cada uma num elástico e as classifica com dizeres do tipo “Responder imediatamente” e “Responder sem urgência”. Odeio Clare Edwards."
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O Vendedor de Armas - Hugh Laurie
(Resenha)


"Imagine que você precisa quebrar o braço de alguém.
Não interessa se é o direito ou o esquerdo. O ponto é que você precisa quebrá-lo, porque se não o fizer... bom, isso não importa também. Vamos dizer que coisas ruins vão acontecer se você não fizer isso.
O que quero perguntar é o seguinte: você quebraria o braço da pessoa rapidinho – tipo crack, oops, desculpe, deixa eu ajudar você com esta tala improvisada – ou prefere fazer aquele serviço completo que dura uns bons oito minutos, aumentando a pressão aos poucos, até que a dor fique rosa e verde e quente e fria e tudo isso junto, o que a torna dolorosamente insuportável?
Exatamente. É claro. O certo a fazer, a única coisa a se fazer, é resolver a coisa logo, o mais rápido possível. Quebre o braço, ofereça um conhaque e seja um bom cidadão. Não pode haver nenhuma outra resposta.
A menos que.
A menos que, a menos que, a menos que...
E se você odiasse a pessoa do braço? Quero dizer, se odiasse muito, mas muito mesmo.
Isso era algo que eu tinha que considerar agora.
Quando digo agora, quero dizer naquela hora, naquele momento em que eu estava querendo descrever; o momento em câmera lenta, ah, maldita câmera lenta, antes de o meu punho alcançar a parte de trás do meu pescoço e meu úmero esquerdo se quebrar em pelo menos dois, ou muito possivelmente mais, pedaços moloides presos um ao outro.
O BRAÇO DO qual estávamos falando, como pode ver, era o meu."


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